Por Antonio Ricardo Soriano
Os filmes de Jerry Lewis, na Sessão da Tarde, as reprises de A
Fantástica Fábrica de Chocolate ou, até mesmo, os antigos seriados de TV,
como Viagem ao Fundo do Mar, me
despertaram um grande interesse pelos filmes logo na infância. Aguardava com ansiedade
a chegada das férias escolares para poder assistir aos muitos filmes que
passavam no Festival de Férias nas
tardes da TV. Isso nos anos de 1970 quando o VHS não havia chegado ao Brasil.
Quem me levou pela primeira vez ao cinema foi meu pai.
Assistimos juntos Se Meu Fusca Falasse
e filmes de Os Trapalhões em cinemas
próximos de casa, como o cine Nacional
(no bairro da Lapa) e os cines Haway
e Flórida (no bairro de Perdizes).
Mas foi em 1980, quando eu tinha apenas 10 anos de idade, que
a paixão pelo cinema se manifestou. Meu tio Gilberto me levou para assistir ao
filme Xanadu, com Gene Kelly e Olivia
Newton-John, no melhor cinema de São Paulo: o Comodoro Cinerama. Foi ali que tive, pela primeira vez, a
experiência do cinema espetáculo. Um musical maravilhoso visto numa tela
gigantesca e com som de extrema qualidade, que só o cine Comodoro podia nos
proporcionar. O filme me despertou a curiosidade de pesquisar sobre cinema, na
época apenas em jornais e revistas.
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Lobby card do filme Xanadu (1980) |
Em seguida tive novas e agradáveis experiências no cine Comodoro, como as exibições de E. T. - O Extra-Terrestre, Tron – Uma Odisseia Eletrônica, Jogos de Guerra, Indiana Jones e o Templo da Perdição e De Volta para o Futuro. Nesse período, passamos a ter nas bancas de
jornal, uma revista especializada em cinema, a Cinemin, que vinha do Rio de Janeiro. Uma excelente revista com
rico conteúdo sobre as novidades do cinema e sua história.
Interessante dizer que, talvez, aquela minha recente paixão
pelo cinema acabou influenciando e motivando o meu tio Gilberto. Ele também se
interessou mais por cinema e, a partir daí, passou a comprar livros, revistas e
discos com a trilha sonora de filmes.
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Meu tio Gilberto (in memoriam) |
Passei a dividir a paixão pelo cinema com a música. Em 1981,
uma grande banda de rock britânica veio pela primeira vez ao Brasil: era
Freddie Mercury e sua banda Queen. O
show foi transmitido ao vivo pela Bandeirantes
FM e eu gravei tudo em duas fitas cassetes. O Rock & Roll passava a ser o meu ritmo musical preferido.
Em 1983, senti pela primeira vez a “presença da Força”
assistindo ao filme O Retorno de Jedi
no cine Ouro (no Largo do Paissandú),
o sexto episódio da saga Star Wars. Depois, precisei aguardar a reprise de Guerras nas Estrelas e O Império Contra Ataca pela TV aberta.
A curiosidade e as pesquisas sobre cinema aumentaram. Em
1985, tive a ideia de fazer um jornal sobre o tema, talvez, influenciado pelo farto material que meu tio havia adquirido. A ideia surgiu em um
sonho e, ao acordar, fiz os primeiros esboços. Algo bem simples, com colagens de notícias de jornais.
Apresentei o jornal aos meus primos Roberto e Marcos Gabler,
que logo se interessaram. O Marcos já trabalhava na área de publicidade e se
ofereceu para fazer o design gráfico do jornal. Estimulados, eu e o Roberto
combinamos de pesquisar e redigir textos para o jornal que teve o nome
escolhido no mesmo dia: Cine Fanzine.
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Os números 1 e 2 do Cine Fanzine |
Como ainda não existia a internet, essas pequenas
publicações, chamadas de fanzine (fan + magazine) eram bem cultuadas.
O Cine Fanzine
acabou ficando bem atraente e com bom conteúdo textual. O primeiro número foi
lançado no início de 1986 e teve uma tiragem bem pequena que foi distribuída no
Cineclube Oscarito. Em seguida, alguns exemplares foram enviados através de cartas aos associados do The
Pictures Club, um fã-clube de cinema também criado por nós. Um exemplar do
fanzine acabou chegando à redação de jornalismo da TV Cultura, que nos chamou para duas entrevistas: uma ao vivo, no
programa especializado em cinema Imagem
& Ação e outra gravada, no programa de variedades Panorama.
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Entrevista ao vivo no programa Imagem & Ação da TV Cultura |
O lançamento do fanzine culminou com a chegada do videocassete
em minha casa. Que alegria! Começavam ali as maratonas de filmes durante os
finais de semana. Cheguei a ficar sócio da recém-lançada 2001 Vídeo Locadora (na Av. Paulista) para locar clássicos do
cinema. Os lançamentos ficavam por conta das locadoras do bairro.
Lançamos o nº 2 do Cine
Fanzine em setembro de 1986 e já preparávamos o terceiro quando tivemos que
cancelar o projeto por motivos profissionais. Um ciclo criativo de minha
adolescência terminava, cedendo lugar para a fase adulta.
A partir dos anos de 1990, acompanhei com tristeza o
fechamento de quase todos os cinemas de rua que frequentei e outros que acabaram
mudando a programação para filmes pornográficos. A Cinemark trouxe suas micros-salas de cinema para os shoppings e,
logicamente, não me encantaram. Passei um longo período longe dos cinemas, mas
não das vídeo-locadoras. Acompanhei o cinema através dos lançamentos em VHS e,
depois, dos DVD’s.
Os anos se passaram, casei e tive uma linda e encantadora
filha. Foram anos muito felizes e, também, de muito trabalho.
Em 2003, tive a felicidade de começar a trabalhar na
biblioteca do Colégio Dante Alighieri.
Passei a ter acesso diário a muitas informações culturais. Foi uma inspiração enorme para começar a concretizar mais uma grande
ideia.
Sentia saudades daqueles incríveis momentos no cine Comodoro, lá nos anos de 1980, e a ideia
de homenagear esse cinema passou a ser uma constante. Pesquisava na internet e
não encontrava quase nada sobre o cinema. Apenas dois textos incríveis: um do cineasta
pernambucano Kleber Mendonça Filho e outro do carioca e professor João Luiz Vieira.
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O cine Comodoro Cinerama |
A ideia inicial era pesquisar e guardar tudo que eu pudesse
encontrar sobre o cine Comodoro e, mais tarde, publicar um livro. Em 2007,
minha amiga bibliotecária e escritora Roseli Pedroso, mostrou-me a ferramenta Blogger para a criação de blogs. Ela
estava criando o seu blog sobre biblioteconomia, o Bibliotequices & Afins.
Era o que faltava para se homenagear o cine Comodoro! Rapidamente comecei a criar o
meu primeiro blog.
Minha esposa iniciou uma Pós-graduação no Mackenzie e passei
a levá-la. No aguardo do término das aulas, aproveitava o tempo livre para
fazer pesquisas na biblioteca de arquitetura da universidade. Foi quando consegui
um volume enorme de fotos e informações sobre os antigos cinemas de São Paulo.
Fiquei fascinado com a qualidade do material adquirido e a ideia de homenagear o cine Comodoro se ampliou. O blog, agora, passava a contar a história de todos os antigos e atuais cinemas de São Paulo. O blog Salas de Cinema de São Paulo acabava de ser criado!
Fiquei fascinado com a qualidade do material adquirido e a ideia de homenagear o cine Comodoro se ampliou. O blog, agora, passava a contar a história de todos os antigos e atuais cinemas de São Paulo. O blog Salas de Cinema de São Paulo acabava de ser criado!
O início foi muito difícil. Tinha muito material e pouco
tempo para publicar. Tive que fazer uma grande mudança no blog: dividi-lo em
dois - ou melhor, criar mais um: o blog Salas de Cinema de São Paulo - Banco de Dados. Não dava para misturar as informações de cada cinema com textos (crônicas,
memórias, biografias, etc.). Demorou um ano para que o layout dos dois blogs fosse
concluído.
Tenho muito orgulho de ter criado os sites
Salas de Cinema de São Paulo! Agora com os domínios adquiridos.
As páginas
já possuem uma enorme quantidade de informações sobre a história dos cinemas de
São Paulo e são cultuadas por pesquisadores, universitários e amantes da sétima
arte.
Recentemente, de 2013 a 2018, voltei a frequentar os
cinemas.
Desta vez, na região da Av. Paulista, semanalmente, nos dias do rodízio do meu carro. Uma deliciosa e inesquecível maratona de mais de 160 filmes assistidos!
Desta vez, na região da Av. Paulista, semanalmente, nos dias do rodízio do meu carro. Uma deliciosa e inesquecível maratona de mais de 160 filmes assistidos!
A experiência de assistir os filmes no cinema é infinitamente
superior a assisti-los em casa.
Deixo aqui, nesse texto, um pouco de minha trajetória com o
mundo do cinema. Um mundo de histórias reais e fictícias que nos emocionam. A
chamada Sétima Arte que, para mim, é
a soma de todas as artes!