INAUGURAÇÃO
- CINE TRIANON
O cinema foi inaugurado em 14/07/1956 com o nome de cine TRIANON.
Possuía apenas uma sala com cerca de 1400 lugares (plateia e balcão) e era
administrado pela Cia. Cinematográfica Serrador Ltda. Em sua inauguração foi exibido o filme "Eles Se Casam Com as Morenas", com Jane
Russel e Jeanne Crain. Estavam presentes o gerente e o diretor da Cia.
Serrador, João Zeron e Dr. Florentino Llorente. Contava com aparelhos de
projeção Simplex para os sistemas CinemaScope, Vista-Vision, SuperScope e
Naturama e o som era estereofônico. O prédio era de propriedade de Phelippe
Azer Maluf.
REINAUGURAÇÃO
- CINE BELAS ARTES
O cine TRIANON foi inteiramente reformado e reinaugurado em 14/07/1967 (aniversário
de 11 anos do cinema), com novo nome: BELAS ARTES. Com a instalação
de novas poltronas, a capacidade do cinema diminuiu para cerca de 1200 lugares. O
filme inaugural foi "Os Russos Estão Chegando" (1966), de Norman
Jewison, indicado ao Oscar em quatro categorias e ganhador do Globo de Ouro na
categoria de Melhor Comédia e Melhor Ator de Comédia (Alan Arkin), além da
indicação de Melhor Roteiro (William Rose).
O 'cinema de arte' passou a predominar a programação do cine
Belas Artes, organizada pela Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), criada em 1962, para
apoiar a Fundação Cinemateca Brasileira. O presidente da SAC, Dante Ancona
Lopez (1909-1999), havia selado um acordo com a Cia. Serrador, pelo qual se
responsabilizava administrativa e artisticamente pelas projeções a serem realizadas
na nova sala de espetáculos.
Dante Ancona Lopez era conhecido por trazer o 'cinema de arte' a São Paulo (quando fundou
o cine Coral, em 17/09/1958, na Rua 7 de Abril, 381) e já havia feito,
acertadamente, a mesma experiência de levar filmes alternativos a dois cinemas
menores, Scala e Picolino, também em parceria com a Cia. Serrador, razão pela
qual as duas partes decidiram levar a experiência a uma sala maior.
Na cerimônia
de anúncio a imprensa da inauguração do cine Belas Artes, em 12/04/1967, Dante Ancona Lopez
declarou:
“Quando começamos a experiência dos cines Scala e
Picolino, pensávamos ter que fazer certas concessões ao gosto do público,
exibindo fitas que, não sendo meramente comerciais, não tinham padrões
excepcionais de qualidade. Atualmente, verificamos que esses filmes já não
satisfazem ao público que se acostumou a exigir um alto nível artístico de
nossa programação. “A Passageira”,
de Munk, que atualmente está sendo exibida
naqueles cinemas – e cujo lançamento nos parecia um pouco perigoso – está tendo
a melhor das repercussões. O fato é que, em sua tentativa de estabelecimento de
um 'cinema de arte', a SAC foi bem-sucedida, o que em muito motivou a decisão
acertada da Empresa Serrador de adotar São Paulo de um verdadeiro 'cinema de
arte'. Continuaremos, pois a exibir uma programação
que tenha grande categoria cultural. As sessões especiais de segundas-feiras,
que vem sendo realizadas no Picolino, às 22h30, serão no cine Belas Artes,
complementadas por outras manifestações artísticas. Ao invés de se limitarem a
exibição de filmes de boa qualidade, que se perderam por lançamentos mal
feitos, ou que não disponham de um público convencional, essas sessões serão
precedidas de concertos corais e de câmara, recitais, palestras, debates,
espetáculos teatrais e coreográficos”.
As
apresentações não cinematográficas serviam, também, de complementação a filmes
de importância artística que não tinham a duração convencional de 90 minutos ou
mais. A ideia era adequar o cine Belas Artes ao lema da SAC:
“ESPETÁCULO,
POLÊMICA E CULTURA”.
Já,
Fiorentino Llorente, diretor da Cia. Cinematográfica Serrador e
conselheiro-fundador da SAC declarou, em junho
de 1967:
“A decisão da Cia. Serrador, de instalar um grande
cinema devotado ao filme de arte, foi ditada pela necessidade de São Paulo ser
possuidora de uma sala de grande categoria com programação especial, a exemplo
do que acontece em outras cidades do mundo. A experiência feita no Picolino
mostrou ser possível a implantação junto ao público de um novo repertório de
fitas, graças a um sistema novo de promoções. O filme de arte que, antes, era
um verdadeiro tabu para o exibidor, hoje, graças a ação de cinematecas, cineclubes,
imprensa especializada, realizadores nacionais, debates e estudos nos meios
estudantes, exibidores e distribuidores mais esclarecidos, e até mesmo
solicitado por uma plateia em formação e que, em matéria de qualidade
artística, é mais exigente. É muito proveitosa a aproximação entre a Cia.
Serrador e a Sociedade Amigos da Cinemateca, com sua indispensável assessoria
cultural”.
No 1º andar do Belas Artes, funcionava a secretaria e a biblioteca da SAC, além de uma
galeria com exposições permanentes. No hall de entrada, stands com os últimos
lançamentos de livros e discos de vinil. Havia, também, um pequeno palco com
iluminação e sistema de som, adequados para realizar pequenos espetáculos de
teatro, música e dança, além de palestras e conferências.
Os
primeiros filmes exibidos no Belas Artes foram: "O Anjo Exterminador",
de Luis Buñuel, "A Carroça", de Karel Kachina, "Pedro, o Negro",
de Milos Forman, "Os Cachimbos do Adultério", de Voitech Jasny e
"O Acusado", de Jan Kadar e Elmar Klos. Devido à grande capacidade de
lotação do Belas Artes, as produções exibidas ali não podiam ser só para um
público restrito, por isso, eram escolhidos filmes que atendiam os objetivos
culturais da SAC e que podiam, ao mesmo tempo, chamar a atenção de um grande
público.
Em 07/08/1970, o Belas Artes foi dividido em
duas salas: a Villa-Lobos (com 630 lugares) e a Cândido Portinari (no local do
antigo balcão ou plateia superior, com 508 lugares).
A terceira
sala foi inaugurada no subsolo do Belas Artes, em 05/12/1975, com nome de Mário de Andrade. O programador Dante
Ancona Lopez decidiu utilizar as salas do térreo e do 1º andar para exibir
filmes mais populares e reservar a do subsolo para ciclos e mostras especiais.
Em 1981,
os fiscais da Prefeitura apontam irregularidades nas salas de exibição do
cinema. A Cândido Portinari possuía paredes revestidas de madeira, a
Villa-Lobos tinha escadas estreitas e sem sinalização e a Mário de Andrade
tinha apenas uma saída de emergência. O cinema permaneceu aberto e teve prazo
de vinte dias para realizar as mudanças exigidas.
INCÊNDIO
Um
incêndio destruiu na madrugada de 10/05/1982,
as instalações das duas maiores salas do Belas Artes. Primeiro a Portinari, em
seguida, a Villa-Lobos. A equipe de bombeiros teve dificuldades de acessar o
interior do cinema devido à elevada temperatura, agravada pelas paredes de
concreto que impediam a dissipação do calor. O fogo se alastrou rapidamente
graças aos materiais de fácil combustão existentes no cinema, como poltronas,
carpetes, cortinas e isolantes acústicos. Até os projetores foram destruídos. A
sala Mario de Andrade nada sofreu. Mesmo com salas estando ainda em situação
irregular perante a Prefeitura, a perícia concluiu que o incêndio teria sido
criminoso, pois foram arrombados portas e cofre.
Na
ocasião, os cartazes anunciavam: “Bodas de Sangue”, de Carlos Saura (na sala
Villa-Lobos), “Crônica do Amor Louco”, de Marco Ferreri (na Cândido Portinari)
e “A Mulher do Lado”, de François Truffaut (na Mário de Andrade).
REABERTURA
O Belas
Artes foi reaberto para convidados em 01/06/1983
e, para o público em geral, em 02/06/1983,
totalmente reformado e, agora, dividido em seis salas, cada uma batizada com o
nome de um artista brasileiro. Duas salas no subsolo, Carmen Miranda e Mário de
Andrade; duas no térreo (local da antiga plateia, dividida ao meio), Oscar
Niemeyer e Aleijadinho; e duas no primeiro andar (local do antigo balcão e sua
sala de espera), Cândido Portinari e Villa-Lobos. Cada sala com infraestrutura
própria: sala de espera, banheiros e saídas de emergência.
Desta
vez, os cartazes de rua anunciavam: “Danton, o Processo da Revolução”, de
Andrzej Wajda (Villa-Lobos); “Retratos da Vida”, de Claude Lelouch (Cândido Portinari);
“Sargento Getúlio”, de Hermano Penna (Oscar Niemeyer); “Sete Dias de Agonia”,
de Denoy de Oliveira (Aleijadinho); “O Desespero de Verônica Voss”, de Rainer
Werner Fassbinder (Carmen Miranda) e “Crônica de Amor Louco”, de Marco Ferreri
(Mário de Andrade).
O cinema, agora chamado Gaumont Belas Artes, seguiu com a mesma linha de programação (o 'cinema de arte'), mas com uma nova
administração, a distribuidora francesa Gaumont
do Brasil Cinematográfica Ltda., que o comprou da Cia. Serrador e inaugurou o
conceito de multiplex na cidade (o primeiro da América Latina). A Gaumont exibiria
ali, grandes lançamentos do cinema francês.
Além da
grande quantidade de salas, o Belas Artes retornou com muitos aprimoramentos: cor
das salas, que variavam do verde ao vinho, do cinza ao marrom; poltronas em
tecido, com encosto duplo e suporte para cabeça; sistema de som Dolby e
equipamentos eletrônicos de projeção (com tecnologia europeia). A reforma geral
durou seis meses e custou cerca de dois milhões de dólares.
O cinema foi interditado logo após a reabertura, em 15/06/1983,
pela Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano e Comissão Especial de
Uso e Ocupação do Solo, que analisaram o Código de Edificações e exigiram
modificações no prédio, como a retirada de algumas poltronas das salas e
melhorias na circulação interna, para uma saída mais rápida e segura do
público. Com as mudanças realizadas, o cinema foi autorizado a iniciar suas
atividades em outubro do mesmo ano. A capacidade do cinema diminuiu de 1436
lugares para 988.
DECLÍNIO
Em 29/01/1987, o Circuito Alvorada passou a controlar o Belas Artes e exibir filmes mais
comerciais. O público fiel, acostumado a uma programação diferente, foi desaparecendo
e, nos anos de 1990, o cinema entrou em crise e, sem manutenção, suas
instalações se deterioram.
A
distribuidora e exibidora carioca de filmes de arte Estação
Botafogo passou a comandar o cinema em 27/07/2001
e o rebatizou como Estação Belas Artes.
Retomaram a programação dedicada exclusivamente ao 'cinema de arte', privilegiando
clássicos, filmes independentes e nacionais. Lançaram excelentes filmes e promoveram
ciclos de diretores consagrados.
No final de 2002, o grupo Estação resolveu concentrar suas transações no Rio de Janeiro, saindo do mercado paulista, onde administravam 10 salas (seis do Belas Artes, duas do Top Cine e duas do Studio Alvorada). André Sturm, cineasta e
distribuidor, fã declarado do Belas Artes, procurou imediatamente parceiros para administrar o cinema (um sonho antigo de Sturm!).
Em 05/12/2002, o Viva o Belas Artes, movimento
criado em sua defesa, conseguiu adiar o fechamento do cinema por mais alguns
dias. Nesta data, o cinema exibiria as suas últimas sessões, por isso, integrantes
do movimento penduraram faixas em frente ao prédio afirmando que o Belas Artes
seria um patrimônio público da cidade e, portanto, não poderia fechar. O Viva
o Belas Artes tinha o arquiteto Roberto Loeb como presidente e a jornalista
Sonia Morgenstern Russo como vice.
ESPERANÇA
REINAUGURAÇÃO
– CINE HSBC BELAS ARTES
André
Sturm, proprietário da Pandora Filmes, junto de Fernando Meirelles (cineasta –
diretor), Andréa Barata Ribeiro (publicitária – produtora) e Paulo Morelli
(cineasta – diretor), ambos da produtora O2, tornaram-se sócios e, a partir de março de 2003, passaram a administrar o Belas Artes, evitando assim o seu
fechamento. Renegociaram o aluguel do imóvel e, em dezembro, assinaram uma parceria
com o banco HSBC, que acrescentou seu nome ao cinema, dando início a uma reforma
total do complexo. "Hoje, com a nova parceria, estou realizando o sonho de viabilizar o projeto com sócios que têm interesses comuns", diz Sturm.
A reinauguração
do cine HSBC Belas Artes aconteceu em 28/05/2004, às 20h30, com a
superlotação de todas as salas de exibição, que projetavam, simultaneamente, a
pré-estreia do filme "O Outro Lado da Rua", de Marcos Bernstein,
estrelado por Fernanda Montenegro e Raul Cortês (ambos presentes no evento).
A
programação, organizada pelos cineastas Sturm e Meirelles, passou a ser de 'cinema de arte' e filmes comerciais de qualidade, mesclados com filmes
nacionais, clássicos e outros raros e inéditos no país como, por exemplo, o
argentino “Histórias Mínimas” (2002), de Carlos Sorín, exibido na semana da
inauguração.
“Um cinema para quem gosta de
cinema, para cinéfilos radicais, não tanto para quem prefere pipoca e shopping”,
explicou Meirelles.
Dentro da
programação, entre 6 a 8 filmes em cartaz, havia sempre um brasileiro, além disso,
as salas recebiam mostras especiais e, uma vez por mês, o famoso Noitão, que
exibia filmes na noite de sexta até o início da manhã de sábado (sempre com um
filme surpresa). Umas das características da programação era atrair grande
quantidade de público para filmes considerados 'pouco comerciais', como por
exemplo, o filme francês “Medos Privados em Lugares Públicos”, de Alain
Resnais, que ficou em cartaz por cerca de três anos.
Duas
reformas, projetadas pelo arquiteto Roberto Loeb e Alexandre Toro (responsável
pela comunicação visual), deixaram o hall de entrada e os corredores mais
espaçosos. Em cada andar, um lobby com bar e bombonière. No 1º andar,
uma grande janela, com vista panorâmica para a Rua da Consolação e no térreo, quatro
novas bilheterias (e sem vidros!). Novas tecnologias foram instaladas, como novas
lentes de projeção e sistema de som mais moderno. Foi instalado também, um
elevador de acesso para deficientes físicos. Devido às novas poltronas, a
capacidade total do cinema passou a ser de 1040 lugares: salas Aleijadinho
(154); Cândido Portinari (245); Carmen Miranda (97); Mário de Andrade (88);
Oscar Niemeyer (163); e Villa-Lobos (293 lugares).
Programação
de filmes na semana de inauguração: “O Herói da Família”, “O Dia Depois de
Amanhã”, “Cronicamente Inviável”, “Quanto Mais Quente Melhor”, “As Bicicletas
de Belleville”, “O Outro Lado da Rua”, “Viva Voz” e “Histórias Mínimas”.
O
POLÊMICO FECHAMENTO
Em março de 2010, o banco HSBC retirou o patrocínio do Belas Artes. André Sturm, proprietário do cinema, iniciou uma
mobilização para conseguir novos patrocinadores, pois os valores arrecadados
com as bilheterias não eram suficientes para manter o complexo de seis salas funcionando.
André Sturm, proprietário do cinema declarou na época:
“Nosso problema é uma equação econômica. Em um cinema de shopping, o
aluguel equivale a cerca de 10% do faturamento. Já o nosso, em torno de R$ 60
mil, chega a 25%. As contas não fecham. Da renda de um filme, 50% fica com a
distribuidora. Outros 10% vão para os impostos – fora, depois, o imposto de
renda, o IPTU...”.
Mas, mesmo com dificuldades e sem patrocinío, o Belas Artes continuou exibindo filmes.
Iniciou-se
um dramático processo de renovação do contrato de aluguel entre o proprietário
do prédio, Flávio Maluf e o dono do
cinema André Sturm. Flávio Maluf queria um reajuste no valor do aluguel que,
segundo ele, estava muito defasado e Sturm, acertando uma parceria com novos
patrocinadores, se comprometeu a pagar um valor maior.
Em 30/12/2010, às vésperas de assinar um novo contrato de
aluguel, Sturm recebeu uma notificação judicial para que entregasse o imóvel até
fevereiro. Sturm havia conseguido o apoio de três empresas dispostas a
patrocinar o Belas Artes. Flávio Maluf recusou uma oferta de aluguel acima do valor anterior (com garantia de pagamento por cinco anos,
mais correção anual) e pediu a devolução do prédio do cinema.
Em janeiro de 2011, o Conpresp (Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da
Cidade de São Paulo) e o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) abriram processos
de tombamento do prédio do cine Belas Artes. Iniciou-se uma avaliação sobre a sua
relevância no conjunto de edifícios de arquitetura moderna nos anos 1940 e
1950, na caracterização urbanística da área da Rua da Consolação e da Avenida
Paulista. Analisando também, a necessidade de se preservar a arquitetura
original do antigo cine Trianon (precursor do Belas Artes), obra de 1956, do
arquiteto de origem italiana Giancarlo Palanti (1906-1977). Com a abertura dos processos, o proprietário do imóvel ficou obrigado a pedir autorização para
qualquer alteração que pretendesse realizar no prédio.
O anúncio
do fechamento do Belas Artes desencadeou inúmeras manifestações populares,
entre passeatas, criação de blogs e páginas em redes sociais, além de
abaixo-assinados físicos e eletrônicos com o registro de cerca de 28 mil adesões. Paralelo a isso, ocorreram manifestações de funcionários do cinema e protestos de cineastas
e críticos. Contudo, nada impediu que o Belas Artes fechasse as portas em 17/03/2011.
André Sturm
chegou a visitar imóveis no centro da cidade para alugar e abrir um novo cine
Belas Artes, mas desistiu, acreditando que o processo de tombamento pudesse
reverter a situação, mesmo após o fechamento.
Depoimento
do cineasta Carlos Reichenbach (1945-2012):
“Cada
cinema de rua que fecha é o mesmo que uma biblioteca desativada ou uma praça
pública depredada. Seja em São Paulo, ou pior ainda no interior, equivale a
necrose da artéria da vida social da aldeia. Não vejo paliativos para ‘salvar’
patrimônios culturais enfermos e/ou ameaçados; a solução será sempre extrema.
Tombamento já!”.
17/03/2011
AS
ÚLTIMAS SESSÕES
O último
dia de funcionamento do Belas Artes teve uma programação especial com clássicos
do cinema, batizada de A Última Sessão do Cinema: “La Dolce Vita” (Federico
Fellini, 1960), “No Tempo do Onça” (Irving Brecher, 1940), “O Leopardo”
(Luchino Visconti, 1963), “O Joelho de Claire” (Eric Rohmer, 1970), “O Águia”
(Clarence Brown, 1925) e “Queimada!” (Gillo Pontecorvo, 1969). As sessões estiveram lotadas e muitos
frequentadores tiraram fotos para guardar de recordação.
No dia
seguinte, o cinema começou a ser desmontado. Equipamentos das salas de projeção foram doados à Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) e as poltronas de veludo,
vendidas. O prédio vazio e fechado por meses foi alvo de
pichadores.
O
processo de tombamento do prédio do Belas Artes foi negado pelo Conpresp (órgão municipal)
em 27/09/2011 e, também, pelo
Condephaat (órgão estadual) em 28/11/2011,
permitindo que o dono alugasse o imóvel. O prédio teve a fachada e seu
interior modificados durante décadas, o que dificultava as chances do chamado
tombamento material, muito menos o imaterial, que seria a atividade de cinema
do Belas Artes, também de difícil regulamentação.
Em 19/12/2011, a Justiça exigiu que os processos fossem revistos, acolhendo um pedido do Ministério Público Estadual,
que fora acionado pelos defensores do cinema. Na decisão, o juiz Jayme
Martins de Oliveira Neto e o promotor Washington Luís, da 13ª Vara da Fazenda
Pública, afirmaram haver indícios de que os órgãos municipal e estadual não
observaram 'procedimentos necessários e legais ao exame da qualidade cultural
do imóvel'. Um novo estudo técnico foi iniciado e, mais uma vez, o proprietário
foi impedido de alugar o imóvel, além disso, a liminar expressava que qualquer
alteração e descaracterização do prédio, implicariam em multa de R$ 100 mil por
dia ao dono.
O
vereador Eliseu Gabriel criou a CPI Cine Belas Artes, aprovada e instalada na
Câmara Municipal de São Paulo, em 11/04/2012.
A comissão formada por sete vereadores, tendo como relator, o vereador Floriano
Pesaro, passou a discutir e apurar a regularidade dos processos de tombamento e
a função social do prédio do cine Belas Artes.
Uma
grande conquista foi anunciada em 15/10/2012:
a fachada do cinema e sua entrada (mais o recuo interior de 4 metros a partir
da fachada) são tombadas pelo Condephaat. Um grande passo para o possível
retorno do cinema, já que a medida dificultou que o dono alugasse o imóvel para
outros fins. O conselho determinou ainda, que a minuta de tombamento deveria
contemplar 'elementos na calçada e fachada que remontem à memória do cinema, a
fim de garantir o registro permanente da memória', divulgou o Condephaat.
O
FESTEJADO RETORNO
A tão
esperada volta do cine Belas Artes foi finalmente anunciada, na tarde de 28/01/2014. Os atores Alessandra Negrini e Marcelo Médici abriram a cerimônia
realizada na Praça da Artes, centro de São Paulo, onde foi assinado o acordo
entre a Prefeitura de São Paulo, os patrocinadores Caixa Econômica Federal e
Grupo Caixa Seguros, o exibidor e programador André Sturm e o proprietário do
imóvel Flávio Maluf. O evento contou com as presenças de Fernando Haddad (então Prefeito
de São Paulo), Juca Ferreira (então Secretário Municipal da Cultura), Marcelo Araújo
(então Secretário Estadual da Cultura), entre outros.
Integrantes do Movimento Cine Belas Artes, criado após o fechamento do espaço, estiveram presentes na cerimônia para comemorar o projeto de reabertura do cinema.
O cinema, passou a se chamar oficialmente Cine
CAIXA Belas Artes e a Prefeitura de São Paulo passou a contribuir com programas culturais associados ao Belas Artes, como o Escola Vai ao Cinema, destinado aos estudantes de escolas públicas e privadas, com sessões matinais especiais, além de programas que estimulam e ampliam o acesso ao cinema.
“Vamos modernizar e colocar novos equipamentos, mas não mudaremos a programação. O Belas Artes terá a mesma cara com a qual as pessoas estão acostumadas e gostam”, disse o proprietário do cinema, André Sturm.
O cinema foi todo reformado com projeto do arquiteto Roberto Loeb. Suas instalações foram modernizadas com acessibilidade para portadores de necessidades especiais melhorada e novas poltronas. Os sistemas elétrico e de ar condicionado foram completamente renovados. O Belas Artes voltou a funcionar efetivamente em 19/07/2014. Três salas foram reabertas (2, 3 e 4) e, dias depois, as outras duas.
Por Roney Domingos (G1) - 19/07/2014
O Belas Artes passou a promover meia-entrada às segundas-feiras para trabalhadores e, na programação de filmes, privilegiar o cinema nacional e, também, o cinema paulista, exibindo filmes
produzidos com os incentivos da Spcine. Além disso, o tradicional Noitão retornou com muito sucesso! Maratona de filmes realizada durante a madrugada, sempre com uma temática diferente.
O BELAS ARTES, NOVAMENTE, EM BUSCA DE UM NOVO PATROCINADOR
O contrato de patrocínio com a Caixa Econômica Federal venceu em 31/12/2018 e acabou não sendo renovado. A partir de 28/02/2019, o cinema voltou a se chamar Cine Belas Artes.
Em 17/03/2019, cinéfilos e produtores da área do cinema compareceram com balões de coração para demonstrar o amor ao 'Belas'. Movimento popular que ajudou na procura de soluções para manter as portas do Belas Artes abertas. Defendia sua importância, não apenas como um patrimônio afetivo, mas como um dos mais importantes pontos de encontro artístico e intelectual da cidade de São Paulo. O evento contou com o apoio e organização do grupo de cinéfilos chamado Vamos ao Cinema Juntos?, que se reúnem, semanalmente, para ir ao cinema, discutir filmes, conversar e fazer novas amizades.
Em 02/05/2019, André Sturm, junto de sua sócia, a cineasta e empreendedora cultural Paula Trabulsi, anunciou o novo patrocinador do Belas Artes, a Cerveja Petra, através de um contrato de 5 anos.
O cinema passou a se chamar Petra Belas Artes.
Em setembro de 2023, o Grupo Petrópolis anunciou que não renovaria o patrocínio da Cerveja Petra com o cinema. Mas, desta vez, o Cine Belas Artes, conhecido como o CINEMA DE RUA MAIS AMADO DE SÃO PAULO, logo conseguiu um novo patrocinador.
O
Cine Belas Artes anunciou, em 03/01/2024, uma parceria com a REAG Investimentos, que patrocinará o cinema, que agora passa a se chamar
REAG Belas Artes. O período de vigência do contrato de
naming rights é de cinco anos, com a possibilidade de extensão.
CENTRO CULTURAL
Em Maio de 2024, o REAG Belas Artes passou a ser, oficialmente, um Centro Cultural, instituição sem fins lucrativos. Além das exibições cinematográficas, o prédio passou a ter atividades como shows, exposições, exibição de filmes com trilha sonora ao vivo, debates, peças de teatro e feiras.
A reinauguração do espaço como
Centro Cultural aconteceu na noite do dia 30/04/2024, com a renomeação de três das seis salas de cinema do histórico cinema. A sala 4 passou a se chamar
Helena Ignez, em homenagem à atriz dos cinemas Novo e Marginal. A sala 5 homenageia o crítico de cinema
Luiz Carlos Merten, e a 6,
Léo Mendes, Gerente de Inteligência do
Belas Artes Grupo, empresa de André Sturm.
Curiosidade: Léo Mendes iniciou sua experiência cinematográfica como Gerente e Assistente de André Sturm na programação de filmes do extinto
Cineclube Oscarito, entre 1989 e 1991.
André Sturm escreveu em sua rede social:
Noite muito especial. Celebrações e homenagens. Em um novo tempo. Um grupo de colaboradores do Belas criou um Centro Cultural e eu doei o cinema para eles. Uma nova geração de cinéfilos e uma entidade sem fins lucrativos. São 20 anos cuidando deste filho. Sensação de dever cumprido!
"Dedico
este texto às duas pessoas mais importantes da história deste 'templo do cinema',
o criador da identidade cultural do Belas Artes, Dante Ancona Lopez e a aquele
que frequentou o cinema na infância e que é um verdadeiro herói na
preservação deste patrimônio cultural da cidade, André Sturm"
- Antonio Ricardo Soriano
REAG BELAS ARTES
Rua da Consolação, 2423 - Consolação
São Paulo - SP
Telefone: (11) 2894.5781