Memórias do cinema de rua - Claudia Ipolito


Cinema de rua, antigamente era assim...
Por Claudia Ipolito - Escritora de crônicas e contos.

Quando eu era criança, os cinemas ficavam nas ruas. Não existiam shoppings como hoje - o filme começava bem antes da tela acender. Começava na caminhada, no cheiro da pipoca na calçada, no burburinho das vitrines e no friozinho na barriga. Era uma aventura em família.

Trago comigo essas lembranças como se fossem fotografias desbotadas, guardadas numa caixa de sapato antiga. 
Anos 70... O tempo da infância, quando a vida tinha cheiro de chiclete Ping Pong.

O cine San Remo era o nosso destino favorito, ali pertinho de casa, em São Paulo. Ficava numa galeria na Rua Domingos de Morais, perto da estação Ana Rosa do Metrô. Íamos a pé, de mãos dadas, meus irmãos e eu, com papai e mamãe. Tinha uma certa mágica naquela rotina - como se cada ida ao cinema fosse uma festa.

Lá dentro, o tempo desacelerava. As luzes se apagavam, e a gargalhada do papai - alta, livre - era mais engraçada que o próprio filme. Assistimos juntos todos os episódios da Pantera Cor-de-Rosa com o atrapalhado Inspetor Clouseau. Ríamos tanto que saíamos com dor na barriga.

Também vimos Mazzaropi, Os Trapalhões, e "Se Meu Fusca Falasse"
A bomboniere era um paraíso sem restrições. Meus olhos brilhavam diante dos confeitos de chocolate recheados com conhaque — e pensar que eu nem sabia o que era conhaque. Será que ainda existem?

No Natal, o ritual mudava um pouco. As primas mais velhas nos levavam ao San Remo. Foi com elas que assisti, pela primeira vez, "Romeu e Julieta", de Franco Zeffirelli. Eu era só uma menina, mas senti o coração apertar com aquela história tão linda e tão triste.

Além do San Remo, também íamos aos cinemas da Avenida Paulista. O cine Gazeta era o meu favorito. Na adolescência, já nos anos 80, eu comecei a ir sozinha. Era um ritual. Conferia a programação no jornal, pegava o ônibus e descia naquela avenida imponente, pulsante.




Na saída, voltava caminhando para casa. As ruas eram diferentes, mas não só elas - era o mundo que parecia ter outro ritmo. E talvez fosse só o meu olhar de menina.

Hoje, os cinemas estão trancados dentro de shoppings, o ingresso chega por aplicativo e os risos se perdem no eco das salas padronizadas. Mas dentro de mim ainda mora aquela menina, encantada com a tela, de olhos arregalados e coração leve, vivendo cada filme como se fosse um sonho. 

E como era bom sonhar assim.

São Paulo (SP) - 12/04/2025

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BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.