Memórias do cinema de rua - Iury Salk Rezende


Minha breve experiência com as salas de cinema
Cinéfilo e criador do blog Cidade dos Sonhos.

Meu nome é Iury Salk Rezende. Nasci e moro em Juiz de Fora, Minas Gerais. Minha paixão pelo cinema teve início ainda na infância, por volta dos cinco ou seis anos, quando fui apresentado às clássicas animações da Disney, como "Bambi", "Pinóquio" e "Mogli: O Menino Lobo". Essas primeiras experiências provavelmente aconteceram no cine Palace, localizado na Rua Halfeld, conhecido por suas matinês infantis, com exibições de desenhos como Tom & Jerry e aventuras protagonizadas por Tarzan.




Durante os anos 1960, fui profundamente impactado por filmes como "A História de Elza", "A Noviça Rebelde" e pelas comédias do ator francês Louis de Funès, especialmente a série "Fantomas". Também me encantavam os filmes live-action da Disney, frequentemente presentes nas programações dos cinemas que eu frequentava: o cine Palace, o cine São Luiz (em frente à Praça da Estação) e o cine Excelsior, na Avenida Rio Branco.

Em 1970, vivi uma das experiências mais marcantes da minha vida cinéfila ao assistir "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick. A sala estava quase vazia, o que me surpreendeu, considerando a fama do filme. Desde pequeno, sempre fui fascinado por viagens espaciais - e sabia que meu nome havia sido escolhido em homenagem ao cosmonauta Yuri Gagarin. O impacto de 2001 foi profundo: seu visual hipnótico, a trilha sonora grandiosa e a atmosfera enigmática ficaram comigo por muito tempo. Foi, inclusive, uma das primeiras trilhas sonoras que comecei a colecionar, ao lado das de "O Exorcista", "Laranja Mecânica" e "A História de Elza".

Desde cedo, me reconhecia como um verdadeiro cinéfilo. Memorizei nomes de atores, compositores e diretores - especialmente Alfred Hitchcock. A televisão também teve um papel fundamental na minha formação: foi através dela que descobri os clássicos do cinema mudo, o neorrealismo italiano, o film noir americano e as produções de monstros da Universal. Em 1973, adquiri um guia de filmes para TV escrito por Rubens Ewald Filho, que se tornou minha bíblia cinematográfica. Além disso, colecionava os cadernos de programação semanal do Jornal do Brasil, publicados às sextas-feiras.

Mas nada se comparava à magia da tela grande. Nos anos 1970, acompanhei de perto os grandes lançamentos da época - os filmes de James Bond ("Com 007 Viva e Deixe Morrer", "O Espião que Me Amava"), "Guerra nas Estrelas", "Tubarão", "Rocky", entre outros.

Entre 1969 e 1973, morei no edifício Excelsior, justamente onde funcionava o cine Excelsior - o cinema mais sofisticado da cidade. Era irresistível: todos os dias, ao voltar da escola, eu parava para conferir a programação e os pôsteres de estreias como "Doutor Jivago", "O Planeta dos Macacos", "O Poderoso Chefão", "A Profecia" e "Um Estranho no Ninho".




O maior cinema da cidade, no entanto, era o cine Central, com sua imponente estrutura de três andares de frisas e um enorme palco. Além de filmes, o espaço recebia concertos sinfônicos, óperas e peças teatrais. Era o cenário ideal para as célebres sessões duplas dos anos 70 - geralmente compostas por filmes B de terror, kung fu, western spaghetti, sexploitation europeu e comédias italianas. Foi lá também que, mesmo sendo menor de idade, consegui assistir "O Exorcista" - filme que me tirou o sono por semanas. Lembro-me também da sessão lotada do musical do Led Zeppelin, "The Song Remains the Same".

Outro espaço importante na minha trajetória foi o cine Festival, uma pequena sala anexa ao cine Central, voltada para filmes autorais e mais ousados. Lá, tive contato com obras que expandiram minha sensibilidade estética e cinematográfica, como "Taxi Driver", "Amarcord", "Casanova", "Sonata de Outono", "A Flauta Mágica" e "Gritos e Sussurros".




Na mesma época, participei ativamente das sessões do Cineclube SEC 2, onde tive acesso ao expressionismo alemão, à nouvelle vague francesa, ao cinema japonês e ao cinema do leste europeu. Esses encontros foram essenciais para minha formação como estudioso da sétima arte. Passei a comprar livros sobre cinema e a frequentar os debates após as exibições - momentos de aprendizado e troca que foram fundamentais para meu amadurecimento cinéfilo.

Nos anos 1990 e 2000, assumi um papel ainda mais ativo na cena cinematográfica de Juiz de Fora: tornei-me curador e programador de mostras, e ajudei a fundar dois cineclubes. Um deles, o Cineclube Luzes da Cidade, organizando sessões, mostras temáticas e eventos como o festival Primeiro Plano.




Para mim, o cinema sempre foi muito mais do que entretenimento: foi formação, descoberta, paixão - e, acima de tudo, uma janela permanente para outros mundos.

Juiz de Fora (MG) - 20/06/2025

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BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.