Texto publicado no “Jornal de Jundiaí” em 06/01/2013.
Eder
é projecionista e, do alto da cabine, coloca diversos filmes que
fazem a alegria e leva muita gente às lágrimas. Ele descobriu o cinema aos 9
anos.
O trabalho de Eder Delatore se dá em uma sala
escura, rodeado por máquinas, com um pouco do som que vem de fora. À sua
frente, depois de um vidro, há uma tela grande, um pouco distante, com imagens
e sons responsáveis por fazer muita gente sonhar por horas. É a sala de cinema.
Eder é quem faz todo aquele espetáculo funcionar,
o filme girar, dos bastidores, e com grande responsabilidade. O jovem projecionista se despregou do cinema durante alguns anos, mas
acabou voltando. Não teve jeito: cinema, ele diz, é uma paixão.
Na sala de projeção, Eder trabalha com o filme em
película e em formato digital. Aprendeu a lidar com as duas formas e não se
intimida. Quando necessário, está em mais de uma sala ao mesmo tempo, às vezes
em três, às vezes em até sete com a película e o digital.
Do alto, onde fica, consegue ter uma ideia se o
filme agrada o público ou não. Alguns filmes têm pregado as pessoas à poltrona
por quase três horas, como “O Hobbit”.
Outros, como “Ted”, fez com que gente
– acompanhada de crianças – deixasse a sala.
Ver filmes? “Dá
para ver muitos a partir da sala de projeção, mas o ideal é ver da poltrona do
cinema mesmo”, explica. “Além disso,
às vezes precisamos sair da cabine, estar atento a outras coisas, em outros
locais”.
Eder não se recorda do primeiro filme que projetou
sozinho em Jundiaí. Após trabalhar por um ano como porteiro do Moviecom, ele
subiu alguns degraus e foi para a sala de projeção. Passou por aprendizado e,
na companhia de outros funcionários, fez a máquina de sonhos girar. Era a época
de “Avatar”. E Eder, lá no alto, com
os olhos pregados na tela, viu o quanto o filme de James Cameron arrancou
suspiros do público.
Eder Delatore deixou a Moviecom Cinemas em 2013, para se dedicar ao um lindo projeto que conheceremos a seguir.
Eder Delatore deixou a Moviecom Cinemas em 2013, para se dedicar ao um lindo projeto que conheceremos a seguir.
Passado
Foi outro filme de Cameron, em 1984, que fez Eder
descobrir o cinema. Certo dia, em Santa Adélia, cidade onde cresceu e
onde vivem seus parentes, Eder decidiu mudar o caminho da escola. Tinha apenas
9 anos. “Decidi
virar e ir para outro lado. Foi quando me deparei com aquele cinema e com o
cartaz de ‘O Exterminador do Futuro’, uma descoberta”.
A vida do menino começava a mudar. Logo chegou a
hora de contar a descoberta para a mãe, que, crente em Deus, achava que aquela
coisa de cinema era meio chegada ao pecado. E o filho sequer tinha entrado na
sala.
O menino voltou a passar pela frente do cinema,
chamado Cine São Paulo. Certa vez, parado
nas grades da portaria, um dos funcionários do local, cujo apelido era Chita,
convidou Eder a entrar. Quando finalmente ele pôs os pés na sala do cinema,
Eder ficou deslumbrado: a grande tela, na qual passava “Hércules e os Gladiadores”, dava a impressão que ia engoli-lo.
“Naquela
mesma sessão, no escuro, alguém puxou meu braço”,
recorda. Era um de seus tios, com quem ele terminou de assistir o filme. Daí
para frente, não parou mais.
De tanto frequentar o Cine São Paulo, Eder passou a trabalhar no local. Limpava o chão se
necessário. Mais tarde, foi parar na sala de projeção.
À época, o equipamento ainda era movido a carvão. “Não que não existisse algo mais moderno,
mas como era cidade do interior, as coisas demoravam um pouco”.
Mais velho, Eder se recorda das vezes em que teve
de ficar até a madrugada no cinema, nas sessões de filmes pornôs. Os outros
projecionistas eram casados e, por pressão das mulheres, não queriam trabalhar
nessas sessões.
Um de seus filmes preferidos é “Platoon”, de Oliver Stone, assistido em Santa Adélia, para onde ele
pretende voltar em breve e onde, com outras pessoas, luta para reabrir o velho Cine São Paulo. “Todo comércio que abriu naquele prédio não foi para frente”,
comenta Eder, fazendo planos para dar vida à sétima arte no local.
“O
cinema é uma paixão. Aproveito meus dias de folga para ver filmes, mas dessa
vez entre o público”.
Eder Delatore deixou a Moviecom Cinemas em maio
de 2013, para se dedicar ao projeto de retomada e recuperação do Cine São Paulo, antigo cinema da cidade
de Santa Adélia, onde trabalhou por toda a infância até a última sessão em
janeiro de 1991.
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