Memórias do cinema de rua - Roseli Pedroso

O primeiro embalo a gente nunca esquece

Por Roseli Pedroso - Bibliotecária, cronista e criadora do site Sacudindo as ideias.

O inverno havia começado tingindo os dias em paletas cinzas. Tempo de férias que sempre amei. Em 1978, não tínhamos redes sociais, computadores, smartphones. Quando muito, as famílias tinham um telefone fixo. Minha família só foi adquirir um, na década seguinte. Tínhamos a televisão, que de uma forma bem precária, nos ligava com o resto do mundo.

Fui uma garota sonhadora, com imaginação além da conta. Brinquei na rua e estiquei minha infantoadolescência até os dezenove anos. Com essa idade já trabalhava e tinha meu salário. Minha irmã mais velha, apaixonada por cinema, colecionava a revista Set, que nos informava sobre o universo cinematográfico e seus lançamentos. Por influência dela, passei também a reverenciar a sétima arte.

Até aquele ano - que foi um divisor de águas -, tinha ido ao cinema para assistir filmes do Mazzaropi. Quando soubemos da estreia do filme Saturday Night Fever (em 03/07/1978) que por aqui recebeu o título de Os embalos de sábado à noite, a galera amiga ferveu e combinamos de ir juntos.

Garotada de origem humilde, mas rica em alegria e garra de descobrir o mundo, seguimos de ônibus para a tão famosa avenida que - anos mais tarde - seria palco de meu desenvolvimento profissional.

Ao chegarmos em frente ao prédio do cinema Gazeta, observamos a fila enorme que se formara em seus degraus, dobrava a Alameda Joaquim Eugênio de Lima e se estendia para a Rua São Carlos do Pinhal.



Só mesmo o frescor da adolescência e a ânsia das descobertas para encararmos essa espera rindo, conversando e fazendo amizades com quem se encontrava na fila. Os embalos já começavam fora do cinema. Momento de paqueras, risinhos nervosos e o frio na boca do estômago. Ninguém fazia ideia do quanto aquela película mudaria nossas vidas.

Todos devidamente sentados, o apagar das luzes e o barulhinho conhecido do rolo se iniciando. Aos poucos, o silêncio se restabeleceu e muitos olhos presos na tela. Arrepio de emoção acompanhou uma viagem que, pelo menos para mim, foi inesquecível.

A história de jovens que trabalhavam durante o dia e aos fins de semana, mergulhavam na dança, paquera e música para espairecer e se fortalecer para a dura volta à realidade, fez com que houvesse identificação total.

Todos desejavam ser Tony Manero e Stephanie, o casal da história. A trilha sonora do filme foi um presente à parte. O LP que minha irmã comprou, existe até hoje completamente riscado de tanto que ouvimos, cantamos e dançamos.

Não teve jeito. Papai teve de ceder e transformar um cômodo nos fundos da casa para ser nossa danceteria particular.

Ao som de Bee Gees, Tavares, Kool & The Gang, KC & and the Sunshine Band e tantos outros que fizeram a época Disco, capitaneado pela nossa rainha negra Donna Summer, minha pré-adolescência teve brilho do lurex, aliado a fantasia de que a vida era uma eterna pista de dança. Assim como Tony Manero, a descoberta da vida real e a passagem para a vida adulta teve seu amargor, mas isso, fica para uma outra história. Aqui, o embalo é nostálgico e permanece doce.

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BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.