Meu primeiro Comodoro!
Por Wilson Oliveira Filho - Professor UNESA e PPGCINE/UFF. Doutor em Memória Social. Autor de "McLuhan e o Cinema" (2017) e "Cinema (ao vivo) e memória: Coleção, performance e tecnologia".
A primeira vez não foi no Comodoro, mas no Metro Boavista e seu teto com figuras geométricas circulares que refletiam o desenho animado que eu pouco dava atenção na TV, mas que me encantava na tela grande guiado na experiência do cinema por meu saudoso pai. Mas o Comodoro foi a grande primeira IDA ao cinema. A vez que de fato registrei na memória, e que, ao retornar para as fotos que acompanham esse texto, também me levou às lágrimas. Era filme dos Trapalhões em tarde dos anos 1980. Talvez 83 ou 84. Da saída de casa no bairro do Estácio (Rio de Janeiro - RJ) até o cinema dava uns 10 minutos. E só pensava que veria um filme e não desenhos no cinema. Ao entrar naquela galeria e naquela sala não tão grande, mas aconchegante, um mundo de sonho se abria.
McLuhan em uma das mais belas definições observa que cinema é o meio "pelo qual enrolamos o mundo real num carretel, como um tapete mágico da fantasia, um casamento espetacular da velha tecnologia mecânica com o novo mundo elétrico" (MCLUHAN, 1964, p.128). E essa mídia, continua o pensador canadense, vende sonhos! Do letreiro ao lobby, até a entrada da sala tudo era parte do filme. Tudo era cinema! Ficar olhando os dois espaços para cartazes de filmes na entrada da galeria virou hábito depois dessa sessão. Sempre ali por anos saí dos Trapalhões e fui ao Cinemão americano. Cocoon. Depois Godard. O Comodoro fazia uma dobradinha com o cine Veneza e trazia filmes fantásticos para as telas ali da quase Tijuca. Daquela sessão acho que nunca saí. Nunca tive um carro, mas tenho um Comodoro em mim.
Referências:
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. Rio de Janeiro: Cultrix, 1964.
Fotos: Wilson Oliveira Filho