Cinemas de São Manuel - Histórias de luzes e sombras
Por José Luiz Ricchetti - 07/02/2024
Quando em 1895, os irmãos Lumière exibiram, pela primeira vez, um curta-metragem na cave do Grand Café em Paris, o mundo mudou e todos nós nos apaixonamos pelo cinema.
A minha cidade natal, São Manuel, um pequeno município do interior paulista, também viu nascer e desaparecer o brilho das telas de cinema. Nos idos de 1904, a sétima arte semeou suas raízes no coração dos são-manuelenses, quando a empresa Grand Prix levou projeções ao interior, deixando um vislumbre do que viria.
Nos anos 60, em meio à efervescência cultural, São Manuel ostentava com orgulho não um, mais dois cinemas. O cine Paratodos, carinhosamente chamado de 'Cinema Velho', testemunhou o fervor do público, com inesquecíveis matinês dominicais, mas suas luzes foram apagadas pelo fogo voraz de um incêndio, talvez uma metáfora das dificuldades que a indústria cinematográfica enfrentava naqueles tempos sombrios.
O cine São Manuel, outro templo do entretenimento, que de tão chique obrigava aos homens o uso de terno e gravata, seguiu o mesmo destino em 1988, cerrando suas portas diante da maré avassaladora da televisão, locadoras de vídeo e novas políticas de distribuição. As sombras da crise pairavam sobre as salas escuras que antes iluminavam a imaginação dos espectadores.
Mas, se pensam que esses dois foram os primeiros capítulos da história cinematográfica da cidade, estão enganados. Os cines França,Bijou, Pavilhão e Eden Pavilhão, dançaram como espetáculos de circo, encantando multidões. Nesta época, seus operadores eram Antonio Paula Lima e João Grandini.
As projeções mudas eram acompanhadas pelas melodias da Orquestra dos Tais (Irmãos Castro Peres, Emílio Guzzi, Antônio Ferraz da Rosa, José Pio Fernandez e Brás Martorelli) e, depois, com a pianista Dna. Irides Canela, que preenchiam o ar com notas de nostalgia e magia.
O cine Royal, comandado pelo maestro Ganaro Castaldi, continuou a sinfonia cinematográfica, passando de mãos em mãos, da família Faschetti à Cia. Ciari, até os Irmãos Augusto. Uma sessão de melodias que ecoavam os altos e baixos da indústria.
E então, tardia, surgiu o cine Cassino, dos irmãos Martorelli, uma última nota em uma partitura rica de histórias. Uma venda para a empresa de Benjamin Augusto, que passou a administrar os dois últimos cinemas da cidade, selou o destino do capítulo final, encerrando este ciclo marcante na vida cultural de São Manuel.
Hoje, as paredes desses antigos cinemas podem ter desaparecido, mas as memórias permanecem como cenas de um filme que se desenrolou nas mentes e corações da comunidade. São Manuel, uma cidade que viu as cortinas se fecharem, mas cuja história cinematográfica ressoa como uma obra-prima, escrita nas estrelas e projetada nas telas da nostalgia.