Por Lia Ancona de Faria, filha de Dante Ancona Lopez.
Dante Ancona Lopez, meu pai, foi um grande pai e uma pessoa com todas as contradições que sua época proporcionava. Havia a vida na família e a vida lá fora e estes mundos só se encontravam com muita dificuldade.
Dante e sua esposa Linda Ancona Lopez |
Amava seu trabalho que, a partir de um certo ponto, era o cinema. Cuidava dos cinemas e dos filmes escolhidos como quem cuida de um filho.
Quando havia uma estreia, a preocupação era com o
clima: vai chover? Pois a chuva espanta quem vai ao cinema…. E a sala, será que
vai encher, com este frio?
Deixou o trabalho com mais de 80 anos e nunca foi esquecido por quem é próximo ao cinema, pelos exemplos que deixou.
É com grande alegria que estou escrevendo essas linhas que me foram solicitadas.
Dante faleceu em 30/12/1999. Não esperou o novo
século, e isto foi a cara dele, que nunca deixou de ser um grande romântico. Os
anos 2000 não foram feitos pra sonhadores.
Descansa em paz, meu pai, com todo o meu amor.
Agradeço a Lia Ancona de Faria pelo texto feito carinhosamente para o blog Salas de Cinema de São Paulo e por toda a atenção dada por sua filha Alessandra Ancona de Faria, diretora da CIRCULARTE EDUCAÇÃO.
Morre exibidor pioneiro de filmes de arte em SP
Por
Leon Cakoff (1948-2011) – Folha de S.Paulo – 06/01/2000
Certamente, nomes de alguns dos grandes gênios do cinema como Fellini, Bergman, Bresson, Antonioni e Kurosawa não seriam tão populares entre nós. Dante criou em São Paulo, ao inaugurar em 1957 o antigo cine Coral, na Rua Sete de Abril, com o filme de Fellini "La Dolce Vita", um novo conceito de programação, que espalhou seguidores pelo país: o do ‘cinema de arte’.
Os exibidores de então, nada distintos dos de hoje, totalmente dependentes da máquina hollywoodiana, viam em Dante a figura de um louco que acreditava em filmes, autores e cinematografias de países completamente à margem do massificado. Felizmente, a sua programação fazia sucesso e passou a ter o mais forte aliado possível da época, os exibidores Julio e Florentino Llorente e Antonio Serrador. E foi para o extinto Circuito Serrador que Dante Ancona Lopez reformou o cine Trianon, que foi reinaugurado, em 1967, como Belas Artes, então com três salas, escrevendo uma das mais bem-sucedidas histórias da programação de cinema em São Paulo. Gostava de dialogar com o seu público, criando sempre frases para os anúncios dos filmes que lançava, acompanhados do seu lema Espetáculo, Polêmica e Arte.
Antes do BelasArtes vieram as iniciativas de criar e presidir a Sociedade Amigos da Cinemateca, em 1962, e inaugurar o cine Picolino, na Rua Augusta, em 1965. Foi também publicitário e radialista, dirigindo nos anos 40 um programa na Rádio Cruzeiro do Sul ao lado de Francisco Alves. Como publicitário, dirigiu os suplementos do jornal ‘A Gazeta’ e ingressou no cinema, em 1933, quando cuidou para a RKO da campanha de lançamento de "King Kong".
Os últimos trabalhos de Dante Ancona Lopez no cinema foram a transformação do cine Rio, no Conjunto Nacional, em Cine Arte Um, e a assessoria que deu ao efêmero Elétrico Cineclube.