Por Antonio Ricardo Soriano
Vittorio di Maio (1852 - 1926)
“Os primeiros filmes brasileiros exibidos, aqueles que marcaram o nascimento do nosso cinema foram, segundo pesquisas mais recentes, filmados e mostrados pela primeira vez ao público, pelo napolitano Vittorio di Maio. Até há pouco tempo atrás, essa primazia era dada aos irmãos Afonso e Paschoal Segreto, também napolitanos. De uma forma ou de outra, portanto, os nossos primeiros passos no cinema foram dados por italianos de origem e brasileiros de adoção.” - Carlos Augusto Brandão (crítico de cinema)
Vittorio Di Maio nasceu, em 14 de abril de 1852, na cidade italiana de Nápoles, vindo para o Brasil integrar-se, por toda a vida, às atividades cinematográficas e aos espetáculos teatrais e de variedades.
O reconhecimento desse pioneirismo lhe foi atribuído em 1986, por várias entidades como a Embrafilme, a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, a Fundação Casa de Rui Barbosa, a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, com a realização de um seminário e um cartão-postal comemorativo dos 90 anos da primeira exibição de cinema no Brasil.
Pelo que hoje se recuperou da memória da filmografia brasileira, na pesquisa patrocinada pela Cinemateca Brasileira, dele seriam "Bailado de Crianças no Colégio, no Andaraí" e "Chegada do Trem em Petrópolis". Embora sustentasse, até o fim de sua vida, ter sido o primeiro a filmar no Brasil, Di Maio jamais exibiu novamente os seus filmes, nem explicou o seu destino.
Nesta época a exibição de filmes era esporádica e ambulante, em lugares públicos como cafés, quermesses, salões, circos e parques de diversões. A partir de 1897, várias localidades brasileiras tiveram o fascínio de descobrir a novidade das imagens em movimento dos vários projetores inventados.
Em maio de 1899, Di Maio instalou um projetor americano Biograph em São Paulo, no Teatro Eldorado Paulista. Com o sócio Leopoldo Perroscino, passaram a organizar as novas atrações oferecidas pela casa.
No ano seguinte, Di Maio inaugurou outra sala de exibição em São Paulo, na Rua do Rosário, nº 5, com o nome de “Salão Paris em São Paulo”, com um Cinematógrafo Lumière. A partir de 1900, o italiano reinaugurou por diversas vezes o “Salão Paris”, sempre com novidades de entretenimento, como “orquestra mecânica”, “museu de cera”, “cinefone (Kinetophone: versão do cinescópio com som gerado por um fonógrafo)", “cinematógrafo falante”, entre outras.
Neste período, a exibição cinematográfica era uma parte menor na programação de suas casas de espetáculo. Mesmo assim, graças ao dom empreendedor e sua paixão pela Sétima Arte, Di Maio abriu vários cinemas no Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e, principalmente, no Ceará.
1907 seria o último ano da pioneira fase dos "projetores" itinerantes e, neste ano, “Victor Di Maio” foi à Fortaleza (Ceará), pela primeira vez, com a Empreza Camões & Di Maio, onde instalou um projetor no Teatro João Caetano e permaneceu na cidade até fevereiro de 1908, quando colocou à venda o projetor da Pathé Frères, para depois anunciar sua viagem a Europa.
Di Maio inaugurou o primeiro cinema fixo em Fortaleza, o "Cinematographo Art-Nouveau", que posteriormente foi popularizado com os nomes de "Cinema Di Maio" e "Cinema Cearense". O Cinematographo Art-Nouveau manteve-se em pleno funcionamento até 1914, na Praça do Ferreira, sempre com grande número de frequentadores.
A personalidade de Di Maio é enaltecida. A imprensa refere-se a ele como “simpático Sr. Di Maio”, e a qualidade de sua programação cinematográfica é destacada, pois as fitas eram caprichosamente escolhidas por ele (“Tentadoras e empolgantes”).
Di Maio deixou Fortaleza no final de 1914, voltando quase doze anos depois. O relato publicado no "Correio do Ceará", edição de 13 de abril de 1926, revelou o regresso e a situação dramática em que se encontrava o empresário dos primeiros tempos do cinema:
"Ha cerca de um mez, encontra-se nesta capital o pobre velhinho Victor di Maio, em triste situação de pobreza e quasi cego. É um symbolo que lembra alguns momentos de delicia por que passou a nossa capital alguns annos passados. Victor di Maio foi o introductor do cinema no Ceará e já antes elle o fôra no próprio Rio, onde fez fortuna e amizades, que não duraram mais do que a sua riqueza, que o infortunio levaria imprevistamente. Hoje, cego, pobre e quasi sem amparo, os momentos de alegria que ao público já proporcionou autorizam-lhe a pedir proteção, para sua infelicidade. E assim é que, no Moderno, por estes dias, será levado esplendido "film" em benefício desta velhice desventurada, pela pobresa e mais ainda pela cegueira. O publico deve, pois, acorrer ao beneficio, para amparar um gesto de generosidade do empresario do Moderno e assistir ao mesmo tempo um "film" colossal de William Farnum." (Texto original, com o português local e de época).
O mesmo periódico, no sábado, 17 de abril, fez novos apelos para que a população prestigiasse a sessão especial no Cine-teatro Moderno, que exibiria o filme “O Seu Maior Sacrifício”. Apelos que ressaltavam a triste situação do pioneiro da exibição cinematográfica no Brasil.
Apenas quatro dias após a sessão em seu benefício, na quarta-feira, 21 de abril de 1926, uma triste notícia: morreu “Victor Di Maio”. E por estranha fatalidade, a morte ocorreu no salão do Café Art-Nouveau, o mesmo prédio onde havia instalado o primeiro cinema fixo de Fortaleza: o Cinematographo Art-Nouveau.
Referências:
Livro "Salões, Circos e Cinemas de São Paulo", de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981.
Livro “Enciclopédia do cinema brasileiro” - Organizadores: Fernão Pessoa Ramos e Luiz Felipe A. de Miranda - Ed. Senac São Paulo - 2004.
Site do Instituto Histórico de Petrópolis (www.ihp.org.br).
Site da Cinemateca Brasileira (www.cinemateca.gov.br).
Próxima postagem:
Veja também neste blog:
As primeiras projeções na cidade de São Paulo
O cine Belém e os primórdios do cinema em São Paulo
Bijou Theatre: 1º local criado, exclusivamente, para exibições cinematográficas em São Paulo
Primeiras projeções da história do cinema
Grandes empresários da exibição cinematográfica: Francisco Serrador
Vittorio di Maio (1852 - 1926)
“Os primeiros filmes brasileiros exibidos, aqueles que marcaram o nascimento do nosso cinema foram, segundo pesquisas mais recentes, filmados e mostrados pela primeira vez ao público, pelo napolitano Vittorio di Maio. Até há pouco tempo atrás, essa primazia era dada aos irmãos Afonso e Paschoal Segreto, também napolitanos. De uma forma ou de outra, portanto, os nossos primeiros passos no cinema foram dados por italianos de origem e brasileiros de adoção.” - Carlos Augusto Brandão (crítico de cinema)
Vittorio Di Maio nasceu, em 14 de abril de 1852, na cidade italiana de Nápoles, vindo para o Brasil integrar-se, por toda a vida, às atividades cinematográficas e aos espetáculos teatrais e de variedades.
1896 - Primeira exibição cinematográfica do país
Não existem dados precisos de como foi a sua vinda para o Brasil, mas é incontestável que Di Maio seja o pioneiro do cinema exibidor no Brasil, com o seu Omniógrapho, instalado a 8 de julho de 1896, às 2 horas da tarde, na Rua do Ouvidor, nº 57, no Rio de Janeiro. O Omniógrafo, na verdade, era o Cinematógrafo (máquina de filmar e projetor de cinema), invenção dos irmãos Lumière. O acontecimento foi noticiado da seguinte maneira: "Omniógrafo - Com esse nome tão hibridamente composto, inaugurou-se ontem às duas horas da tarde, em uma sala à Rua do Ouvidor, um aparelho que projeta sobre uma tela colocada ao fundo da sala diversos espetáculos e cenas animadas por meio de uma série enorme de fotografias."O reconhecimento desse pioneirismo lhe foi atribuído em 1986, por várias entidades como a Embrafilme, a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, a Fundação Casa de Rui Barbosa, a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, com a realização de um seminário e um cartão-postal comemorativo dos 90 anos da primeira exibição de cinema no Brasil.
1897 - Primeiras filmagens no Brasil
Di Maio, também é reconhecido como o realizador das primeiras “vistas” ou filmagens produzidas no país, através de um Cinetógrafo do inventor Thomas Alva Edison, no dia 1º de maio de 1897. Retificando-se uma primazia atribuída ao italiano Afonso Segreto. A exibição destas “vistas” aconteceu em 6 de maio, no Teatro-Cassino Fluminense, em Petrópolis (RJ).Pelo que hoje se recuperou da memória da filmografia brasileira, na pesquisa patrocinada pela Cinemateca Brasileira, dele seriam "Bailado de Crianças no Colégio, no Andaraí" e "Chegada do Trem em Petrópolis". Embora sustentasse, até o fim de sua vida, ter sido o primeiro a filmar no Brasil, Di Maio jamais exibiu novamente os seus filmes, nem explicou o seu destino.
Nesta época a exibição de filmes era esporádica e ambulante, em lugares públicos como cafés, quermesses, salões, circos e parques de diversões. A partir de 1897, várias localidades brasileiras tiveram o fascínio de descobrir a novidade das imagens em movimento dos vários projetores inventados.
Em maio de 1899, Di Maio instalou um projetor americano Biograph em São Paulo, no Teatro Eldorado Paulista. Com o sócio Leopoldo Perroscino, passaram a organizar as novas atrações oferecidas pela casa.
1899 - Primeiro “espaço” dedicado exclusivamente à exibição cinematográfica em São Paulo
Di Maio foi quem abriu o primeiro “espaço” dedicado exclusivamente à exibição cinematográfica em São Paulo (não confundir com um local ou prédio exclusivo, como o “Bijou Theatre”, que é considerado o primeiro cinema de São Paulo). O “Salão Nova York em São Paulo” teve sua inauguração solene em 20 de julho de 1899, na Rua 15 de Novembro, apresentando o Cinetógrafo Edison. No ano seguinte, Di Maio inaugurou outra sala de exibição em São Paulo, na Rua do Rosário, nº 5, com o nome de “Salão Paris em São Paulo”, com um Cinematógrafo Lumière. A partir de 1900, o italiano reinaugurou por diversas vezes o “Salão Paris”, sempre com novidades de entretenimento, como “orquestra mecânica”, “museu de cera”, “cinefone (Kinetophone: versão do cinescópio com som gerado por um fonógrafo)", “cinematógrafo falante”, entre outras.
Neste período, a exibição cinematográfica era uma parte menor na programação de suas casas de espetáculo. Mesmo assim, graças ao dom empreendedor e sua paixão pela Sétima Arte, Di Maio abriu vários cinemas no Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e, principalmente, no Ceará.
1907 seria o último ano da pioneira fase dos "projetores" itinerantes e, neste ano, “Victor Di Maio” foi à Fortaleza (Ceará), pela primeira vez, com a Empreza Camões & Di Maio, onde instalou um projetor no Teatro João Caetano e permaneceu na cidade até fevereiro de 1908, quando colocou à venda o projetor da Pathé Frères, para depois anunciar sua viagem a Europa.
1908 - Primeiro cinema de Fortaleza
Em abril de 1908, o "Jornal do Ceará" publicou uma carta que Di Maio enviou de Paris prometendo residir e instalar um cinema fixo em Fortaleza: "dever achar-se em breve nesta capital, onde pretendo fundar uma casa de diversões e recreio para as famílias". A promessa foi cumprida em 26 de agosto de 1908.Di Maio inaugurou o primeiro cinema fixo em Fortaleza, o "Cinematographo Art-Nouveau", que posteriormente foi popularizado com os nomes de "Cinema Di Maio" e "Cinema Cearense". O Cinematographo Art-Nouveau manteve-se em pleno funcionamento até 1914, na Praça do Ferreira, sempre com grande número de frequentadores.
A personalidade de Di Maio é enaltecida. A imprensa refere-se a ele como “simpático Sr. Di Maio”, e a qualidade de sua programação cinematográfica é destacada, pois as fitas eram caprichosamente escolhidas por ele (“Tentadoras e empolgantes”).
Di Maio deixou Fortaleza no final de 1914, voltando quase doze anos depois. O relato publicado no "Correio do Ceará", edição de 13 de abril de 1926, revelou o regresso e a situação dramática em que se encontrava o empresário dos primeiros tempos do cinema:
"Ha cerca de um mez, encontra-se nesta capital o pobre velhinho Victor di Maio, em triste situação de pobreza e quasi cego. É um symbolo que lembra alguns momentos de delicia por que passou a nossa capital alguns annos passados. Victor di Maio foi o introductor do cinema no Ceará e já antes elle o fôra no próprio Rio, onde fez fortuna e amizades, que não duraram mais do que a sua riqueza, que o infortunio levaria imprevistamente. Hoje, cego, pobre e quasi sem amparo, os momentos de alegria que ao público já proporcionou autorizam-lhe a pedir proteção, para sua infelicidade. E assim é que, no Moderno, por estes dias, será levado esplendido "film" em benefício desta velhice desventurada, pela pobresa e mais ainda pela cegueira. O publico deve, pois, acorrer ao beneficio, para amparar um gesto de generosidade do empresario do Moderno e assistir ao mesmo tempo um "film" colossal de William Farnum." (Texto original, com o português local e de época).
O mesmo periódico, no sábado, 17 de abril, fez novos apelos para que a população prestigiasse a sessão especial no Cine-teatro Moderno, que exibiria o filme “O Seu Maior Sacrifício”. Apelos que ressaltavam a triste situação do pioneiro da exibição cinematográfica no Brasil.
Apenas quatro dias após a sessão em seu benefício, na quarta-feira, 21 de abril de 1926, uma triste notícia: morreu “Victor Di Maio”. E por estranha fatalidade, a morte ocorreu no salão do Café Art-Nouveau, o mesmo prédio onde havia instalado o primeiro cinema fixo de Fortaleza: o Cinematographo Art-Nouveau.
Referências:
Livro "Salões, Circos e Cinemas de São Paulo", de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981.
Livro “Enciclopédia do cinema brasileiro” - Organizadores: Fernão Pessoa Ramos e Luiz Felipe A. de Miranda - Ed. Senac São Paulo - 2004.
Site do Instituto Histórico de Petrópolis (www.ihp.org.br).
Site da Cinemateca Brasileira (www.cinemateca.gov.br).
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Imigrantes italianos, pioneiros da exibição cinematográfica brasileira: Irmãos Paschoal, Afonso e Gaetano Segreto
As primeiras projeções na cidade de São Paulo
O cine Belém e os primórdios do cinema em São Paulo
Bijou Theatre: 1º local criado, exclusivamente, para exibições cinematográficas em São Paulo
Primeiras projeções da história do cinema
Grandes empresários da exibição cinematográfica: Francisco Serrador