Quantos cinemas possui esta Paulicéia querida?
Creio que o número oscila entre 3 a 4 dezenas. Um cinema para cada 20 mil pessoas…
Vão ser inaugurados novos: um todo liró, gracioso à Rua Domingos de Morais, quase vis-à-vis ao Phénix; outro à Av. Tiradentes, que será fatalmente um quartel de uma nova espécie naquela via guerreira, outro ainda à Barra Funda, o Roma, nome para atrair uma multidão de patrióticos súditos de sua majestade Victor Emmanuel que moram nas vizinhanças; e o mais luxuoso e confortável, à Rua São Bento. Este irá competir com o Triângulo. Ambos lutarão pela preferência do exército de “picturers” que, após o ‘footing’, a pé ou em auto pelas ruas da cidade, dão a vida por uma fitinha.
Qual o mais simpático: o República ou o Santana? Quanto ao primeiro, dizem (os proprietários) ser o preferido da “elite” paulistana. Do segundo os proprietários dizem a mesma coisa …
O Avenida é o mais ruidoso dos cinemas paulistanos: logo à entrada um ‘jazz band’ bombardeia o sistema nervoso do público. Na sala de exibição que é úmida, mas bem mobiliada, acotovelam-se crianças, velhos, moços e senhores. Mas como são engraçadas as senhoras, os moços e os velhos do Avenida!
O Central é a antítese do seu colega da Av. São João. Como o Paraíso, é um cinema honesto e pacato. Freqüentam-no as meninas bem educadas dos Campos Elíseos e os velhos que sabem ser velhos.
O São Pedro, encravado na fronteira de dois bairros antagônicos – um é inimigo da gravata, outro usa sabonete Windsor – tem, por força da sua posição dois públicos. Representam-nos o ‘Paschoal o bicheiro’ (que resmunga contra a tirania do colarinho e a exorbitância do preço da cadeira) e a Sra. Dona Maria Saudosa de Antanho, que usa “mitenes” negras e é avó de três meninas-moças de cabelos compridos.
Outros cines existem com suas fisionomias próprias. Cada um reflete o seu bairro, “a alma encantadora da rua” de que faz parte. Bonitos uns, feios outros, são todos, porém respeitáveis. Principalmente, os últimos, dentro dos quais o nosso povo esquece, seguindo as aventuras de um filme em séries, toda a série de desventuras que não são de celulóide.
(Crônica de Jorge Martins Rodrigues, publicada no Diário da Noite em 1927)
A crônica apresentada, escrita em 1927, descreve com glamour e imponência a situação da distribuição das salas de cinema na cidade de São Paulo da época. Mas a dicotomia entre salas do centro e salas de bairro não se deram ao acaso e não permanecem assim até hoje. A exibição cinematográfica na cidade está envolta em diversos processos e fatores que permitem a essa o título de maior metrópole do País.
Leia o texto “O crescimento do cinema na cidade de São Paulo. Salas do Centro x Salas de Bairro” na íntegra.
Creio que o número oscila entre 3 a 4 dezenas. Um cinema para cada 20 mil pessoas…
Vão ser inaugurados novos: um todo liró, gracioso à Rua Domingos de Morais, quase vis-à-vis ao Phénix; outro à Av. Tiradentes, que será fatalmente um quartel de uma nova espécie naquela via guerreira, outro ainda à Barra Funda, o Roma, nome para atrair uma multidão de patrióticos súditos de sua majestade Victor Emmanuel que moram nas vizinhanças; e o mais luxuoso e confortável, à Rua São Bento. Este irá competir com o Triângulo. Ambos lutarão pela preferência do exército de “picturers” que, após o ‘footing’, a pé ou em auto pelas ruas da cidade, dão a vida por uma fitinha.
Qual o mais simpático: o República ou o Santana? Quanto ao primeiro, dizem (os proprietários) ser o preferido da “elite” paulistana. Do segundo os proprietários dizem a mesma coisa …
O Avenida é o mais ruidoso dos cinemas paulistanos: logo à entrada um ‘jazz band’ bombardeia o sistema nervoso do público. Na sala de exibição que é úmida, mas bem mobiliada, acotovelam-se crianças, velhos, moços e senhores. Mas como são engraçadas as senhoras, os moços e os velhos do Avenida!
O Central é a antítese do seu colega da Av. São João. Como o Paraíso, é um cinema honesto e pacato. Freqüentam-no as meninas bem educadas dos Campos Elíseos e os velhos que sabem ser velhos.
O São Pedro, encravado na fronteira de dois bairros antagônicos – um é inimigo da gravata, outro usa sabonete Windsor – tem, por força da sua posição dois públicos. Representam-nos o ‘Paschoal o bicheiro’ (que resmunga contra a tirania do colarinho e a exorbitância do preço da cadeira) e a Sra. Dona Maria Saudosa de Antanho, que usa “mitenes” negras e é avó de três meninas-moças de cabelos compridos.
Outros cines existem com suas fisionomias próprias. Cada um reflete o seu bairro, “a alma encantadora da rua” de que faz parte. Bonitos uns, feios outros, são todos, porém respeitáveis. Principalmente, os últimos, dentro dos quais o nosso povo esquece, seguindo as aventuras de um filme em séries, toda a série de desventuras que não são de celulóide.
(Crônica de Jorge Martins Rodrigues, publicada no Diário da Noite em 1927)
A crônica apresentada, escrita em 1927, descreve com glamour e imponência a situação da distribuição das salas de cinema na cidade de São Paulo da época. Mas a dicotomia entre salas do centro e salas de bairro não se deram ao acaso e não permanecem assim até hoje. A exibição cinematográfica na cidade está envolta em diversos processos e fatores que permitem a essa o título de maior metrópole do País.
Leia o texto “O crescimento do cinema na cidade de São Paulo. Salas do Centro x Salas de Bairro” na íntegra.