Cinemas de arte alteram o espaço urbano paulistano
por Paulo Roberto Andrade ( paulo.roberto.andrade@usp.br ) - Agência USP Os cinemas de arte, como os da região da Avenida Paulista, causam maiores transformações físicas e sociais no espaço urbano do que as grandes redes instaladas nos shoppings centers. Na cidade de São Paulo, estas salas de exibição representam 11% das poltronas e possuem programação regular. Diferentemente dos multiplex (localizados nos shoppings), os cinemas de arte se instalam em vias públicas, galerias e espaços culturais e não têm padronização de salas ou logomarcas, exibindo lançamentos norte americanos independentes, europeus, asiáticos, sul americanos, entre outros. O geógrafo Eduardo Baider Stefani realizou um levantamento das salas de cinema da cidade para entender como elas estão distribuídas espacialmente e quais as repercussões sociais dessa distribuição no espaço urbano. “Procurei entender como um determinado tipo de cinema cria um determinado tipo de público e como os diferentes públicos modificam o espaço urbano”, explica. O tamanho de São Paulo dá condições para que exista um circuito de cinemas de arte. Para sua pesquisa de mestrado “A geografia dos cinemas no lazer paulistano contemporâneo: redes e territorialidades dos cinemas de arte e multiplex”, apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e orientada pelo professor Júlio César Suzuki, Baider recorreu à bibliografia e a guias semanais de jornais. Também realizou entrevistas em campo, de caráter qualitativo, com frequentadores dos diversos tipos de cinema. As questões abordaram as características dos públicos e os motivos da escolha dos cinemas, entre outras. Multiplex e Artes Baider identificou dois grandes grupos de cinema, relacionados à quantidade e tipo de público, quanto aos filmes exibidos, entre outros: os cinemas Multiplex e os, já citados, cinemas de arte. Os multiplex representam 85% das salas da cidade. Para o pesquisador, eles são resultado da transformação do cinema enquanto lazer. Nos anos 1950 e 1960, os filmes eram produtos genéricos, exibidos em salas com 1.500 a 2.000 lugares e atraindo todo tipo de público. “O multiplex surge, no fim dos anos 1980, quando a indústria cinematográfica começa a criar produtos para públicos específicos” explica. “Eles possuem salas menores e padronizadas, com 150 a 400 lugares e estão dispostos, preponderantemente, em Shoppings Centers”. A partir das entrevistas, Baider observou que os frequentadores dos multiplex utilizam o espaço do shopping de maneira mais temporária e menos permanente e sólida. Ele fica limitado a um espaço urbano cerceado e controlado pelas regras do shopping. “Esse frequentador vê o cinema como um lazer. Quando ele muda de amizades, de namorada, de tipo de entretenimento, por exemplo, ele também muda de cinema”, avalia Baider. Já o frequentador do cinema de arte está mais preocupado com o conteúdo do filme, e não com as tecnologias das salas de exibição. “O espectador, nesse caso, vê o produto fílmico, não como um simples entretenimento, mas como uma forma de adquirir cultura. Ele se propõe a consumir o filme como um lazer ativo”, analisa o pesquisador. Diferentes interferências urbanas Os cinemas de arte propiciam transformações urbanas mais intensas, sólidas e perceptíveis do que os multiplex. “Por exemplo, temos uma territorialidade de cinemas de arte e seus frequentadores na área da avenida Paulista, que foi fomentada quando o mercado percebeu a movimentação de frequentadores em função dos primeiros cinemas de arte, como o Espaço Unibanco, o HSBC e outros. A partir daí, novos cinemas foram se instalando e consolidando a cena alternativa da região”, analisa Baider. Para Baider, esse circuito alternativo só é possível devido à imponência espaço-social de São Paulo, que têm a capacidade de fomentar diversos tipos de público e criar um circuito de cinemas de arte e diversos outros lazeres relacionados. O mesmo não ocorre em cidades menores, que possuem poucos cinemas de arte. Expansão das grandes redes Segundo o pesquisador, os multiplex pertencem a poucas redes de exibição, que tentam mapear o espaço da cidade para obter o maior lucro possível. “Os primeiros multiplex se instalaram em shoppings do centro expandido. Hoje, a região central já é um espaço bem mapeado, e a expansão se dá agora em shoppings da periferia, como Itaquera e Aricanduva”, relata o pesquisador. “Seria interessante pensar em políticas públicas a partir de instalações de equipamentos culturais que visassem a valorização do espaço urbano. É o que, mais ou menos, já acontece com o centro tradicional, com o Centro Cultural do Banco do Brasil, Centro Cultural da Caixa, com a revitalização do cine Olido, do cine Marabá, entre outros”, diz o pesquisador. Mais informações: (11) 9510-6352 ou e-mail baider@usp.br, com o pesquisador Eduardo Baider Stefani. Texto publicado no site da Universidade de São Paulo e enviado, gentilmente, pelo colaborador Paulo Ernesto Aranha Rodrigues (vice-presidente da Federação de Cineclubes do Estado de São Paulo) - E-mail: macabixada@ig.com.br
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1. Arquivos institucionais e privados
Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.
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Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.
Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.
Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.
Periódico Acrópole (1938 a 1971)
Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981
Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990
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